Antes de ver a palestra do IEAT sobre o simulacro Second Life, já havia ouvido algo a respeito desse jogo que, na verdade, vai muito além da dimensão de um jogo comum.O Second Life é praticamente um mundo paralelo onde um indivíduo pode realizar todos os seus desejos mais íntimos e impossíveis desde que, é claro, tenha dinheiro para isso.
Por isso, do ponto de vista existencialista, pode-se até dizer que nesse simulacro o homem existe de forma mais efetiva do que na realidade, levando-se em conta o conceito da palavra "existir" para Heidegger e Sartre, respectivamente: existir é fazer-se, contruir-se; e existir e projetar-se, por-se fora de si mesmo.E isso é o que um habitante do Second Life faz nesse mundo, cria uma espécie de alter-ego, nomeia-o, projeta nele suas vontades, tudo isso com a vantagem (talvez não tão benéfica assim) de não ser barrado pelos limites do mundo real. Ou seja, do ponto de vista filosófico esse "jogo" é bastante coerente.
Já do ponto de vista da psicologia e da psicanálise, o "jogo" pode significar o fim dessas, uma vez que se tem um programa que libera, expressa e, de certa forma, trabalha o inconsciente de cada habitante seu.Ainda sob esse foco, deve-se perguntar se o mundo quase sem regras desse simulacro não influencia negativamente no comportamento de seus usuários na sociedade de regras.Os limites na vida de um indivíduo são muito importantes e devem existir, pois de alguma forma protegem-no do resto do mundo.
Mas a visão mais preocupante, para mim, naquela palestra, foi sem dúvida, a da arquitetura.Profeticamente o fim da arquitetura vem sendo anunciado pelos softwares de desenhos de projetos e a criação do Second Life foi a comprovação de que esse fim é cada vez mais certeiro.Essa afirmação com certeza me chocou, embora eu já soubesse o quão verdadeira ela era.É estranho pensar que a arquitetura já foi a representação do poder de um império e hoje está negligenciada e sucateada, subjulgada por softwares e simulacros.O arquiteto perde a sua função a partir de um momento que não se precisa construir um prédio para que ele de fato exista, o concreto (tanto o material quanto um objeto palpável) é desnecessário no mundo do computador.Porém, felizmente, o Second Life e afins não tem explorado a virtualidade da arquitetura nesse meio,e ,enquanto esses simulacros forem apenas representações do mundo concreto, os arquitetos continuarão empregados.
sábado, 22 de março de 2008
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Um comentário:
Muito interessante o seu texto!^^
A palestra sobre o simulacro do Second Life de fato permite-nos questionar sobre diversos assuntos, entre eles o papel da arquitetura na realidade atual. Porém, não acredito o fim da arquitetura... Entendo o Second Life e outros jogos como potenciais campos de atuação também para o arquiteto. Afinal, eles possuem espaços digitais onde ocorrem as interações entre os avatares e que podem ser potencializados com a intervenção desse profissional. Concordo que ainda falta explorar a virtualidade arquitetônica no meio digital!
Postar um comentário